A Hora dos SuperQuinas

A literacia motora e desportiva dos cidadãos é um dos fatores nucleares das sociedades ativas e prósperas. Essa competência é resultante de políticas e programas educativos e desportivos que têm o seu início em idades pré-escolares, mantêm-se nos anos subsequentes e que são efetivos no desenvolvimento de aptidões, habilidades, valores e comportamentos.

Apesar dessa constatação, diversas organizações médico-científicas internacionais salientam que no mundo inteiro mais de 50% das pessoas apresenta um estilo de vida sedentário. É também estimado que, em todo o mundo, mais de 80% das crianças não revelam níveis de atividade física que se consideram benéficos para um crescimento e desenvolvimento saudável e que apenas 40% dessas crianças têm uma competência motora satisfatória.

Face a este quadro alarmante de resultados, as referidas organizações têm vindo a salientar a necessidade urgente de serem criados e implementados programas que sejam eficazes na inversão desta realidade em diferentes contextos de prática.

A escola é indiscutivelmente um local privilegiado para o ensino, incentivo e desenvolvimento de valores e comportamentos e foi nesse contexto que nasceu a "A Hora dos SuperQuinas". Este programa, que decorrerá nas atividades não letivas e de enriquecimento curricular das escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico, pretende promover nas crianças a aquisição de estilos de vida ativos e a melhoria da literacia motora através da participação em atividades físicas e desportivas que lhes proporcionem experiências e brincadeiras significativas, positivas, prazerosas e muito divertidas.

Para que tal propósito seja concretizado e no sentido de coadjuvar os professores de educação física intervenientes neste programa, foi criado este manual digital que pretende orientar e simplificar o processo didático-pedagógico inerente aos objetivos acima delineados. Este manual é constituído por tarefas e jogos, organizados pelos conteúdos que se pretendem abordar neste ciclo de ensino (isto é, perícias e manipulações; deslocamentos e equilíbrios; jogos).

A forma de utilização deste manual evidencia duas possibilidades: a primeira disponibiliza 36 sessões para os 1.º e 2.º anos e 36 sessões para os 3.º e 4.º anos; a segunda permite ao professor a criação da sessão em função dos seus interesses, das competências e/ou debilidades dos seus alunos e das condições estruturais existentes. O manual concede ainda ao professor, a possibilidade de escolher os conteúdos que pretende lecionar e, em consequência, as tarefas ou os jogos que mais se adequam ao ensino desses conteúdos e a parte da sessão em que os deseja inserir.

Eis, em suma, o manual do programa "A Hora dos SuperQuinas" que esperamos se torne, para os professores de educação física, uma ferramenta útil no seu dia a dia e capaz de contribuir para a construção de sessões que sejam marcantes e inesquecíveis para as nossas crianças e potenciadoras da aquisição de uma literacia física e desportiva duradoura.

Presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Dr. Fernando Gomes

Portugal é o país da Europa com menor prática de atividade física. O último Eurobarómetro sobre desporto e atividade física coloca-nos como o país da UE com maior percentagem de pessoas a partir dos 15 anos que não fazem exercício ou praticam desporto (73%). Um valor muitíssimo mais alto do que a média europeia (45%), uma liderança que nos deve envergonhar e provocar profunda reflexão.

Nunca me conformei com esta realidade. Chega a ser uma grande contradição, se atendermos aos sucessos desportivos que vamos somando, aos talentos de topo internacional que, ano após ano, continuamos a produzir. Se já atingimos os patamares que atingimos perante tamanha limitação, pergunto onde estaríamos se três em cada quatro portugueses praticassem desporto.

Esta devia ser uma das questões mais relevantes da nossa sociedade: tirar milhões de portugueses de uma inatividade física que os coloca em risco de saúde e os limita enquanto cidadãos plenos.

É por isso que vejo com grande entusiasmo e orgulho o sucesso d' "A Hora das SuperQuinas", projeto que desenvolvemos no âmbito do Plano Estratégico 2030. Vivemos numa era de múltiplos desafios e riscos para as novas gerações.

"A Hora das SuperQuinas" promove um forte contributo para que os nossos jovens fiquem menos tempo colados aos ecrãs e dediquem mais tempo a uma atividade física que lhes aumentará as capacidades e o sentimento de Felicidade.

Ministro da Educação, Professor Dr. João Costa

É com orgulho e espírito de missão que o Ministério da Educação, desde o primeiro momento, se associou à Federação Portuguesa de Futebol no projeto "A Hora do Super Quinas". Sendo inegável a atração dos nossos jovens pelo futebol , esta iniciativa é mais do que futebol. De facto estamos perante mais do que uma iniciativa em torno da bola e da sua surpreendente capacidade de mobilização. Trata-se de uma experiência séria, conduzida à luz da ciência, da promoção da motricidade dos nossos jovens e dos valores éticos inerentes ao desporto (por vezes tão esquecidos na vivência e celebração do futebol), não esquecendo algo fundamental também que é aprender a brincar e trabalhar os valores desportivos no lugar máximo da equidade que é a escola pública. "A Hora do Super Quinas" representa uma missão de todos, abraçada pela FPF e pelo Ministério da Educação, mas também por cada direção de escola participante, por cada autarquia, por cada família. A promoção do bem-estar físico e mental através do desporto é uma missão de todos, que a todos diz respeito e um direito de todos. Por isso temos a agradecer terem-nos envolvido neste desafio com o qual estamos comprometidos. Muito obrigado!

Ministro da Saúde, Dr. Manuel Pizarro

O desporto é uma grande paixão e é também uma grande escola. Dentro das quatro linhas, um bom resultado é, quase sempre, produto do talento, da união e de muito trabalho, só possíveis quando se assumem os valores do esforço, da persistência e da camaradagem. Incutir nos jovens esses valores é muito útil em todos os domínios da vida.

Saúdo a Federação Portuguesa de Futebol e o projeto "A Hora dos Super Quinas", que já envolveu centenas de crianças em todo o país, promovendo a atividade física e desportiva e dando aos jovens espaço para viver o desporto coletivo. Precisamos de crianças e jovens mais ativos, que tenham na atividade física uma componente importante das suas vidas, pelo impacto que tem no seu bem-estar físico e mental.

Associo-me a esta importante iniciativa, com votos de um ano letivo cheio de golos.

Professor Catedrático na Faculdade de Motricidade Humana (FMH) da Universidade de Lisboa (UL), Carlos Neto

Todas as crianças, independentemente da sua origem cultural e geográfica, sempre realizaram brincadeiras e jogos individuais e coletivos com e sem bola em diferentes tempos e espaços de vida. Mas a bola é um objeto com um profundo significado simbólico, motor, cognitivo, emocional e social. É um objeto de uso universal de experiências corporais em diversos contextos de vida quotidiana (em casa, na rua, na natureza, na escola, no clube, etc.) em todas as idades, géneros e identidades sociais. O jogo com e sem bola permite desenvolver um conjunto de competências motoras básicas e específicas que evoluem em função da qualidade e quantidade de experiências vividas ao longo do seu desenvolvimento. Nas primeiras idades as aquisições motoras com e sem bola, implicam o aperfeiçoamento de diversas habilidades (posturais, locomotoras e manipulativas) capacidades cognitivas (sistemas de informação, tomada de decisão e dinâmicas de ação) e aprendizagem social (regras, valores éticos, etc.), contribuindo para o desenvolvimento formal da formação desportiva no futuro (escola e clubes desportivos) e alcançar níveis de perícia corporal elevada com grande relevância social, política e económica.

O presente projeto da FPF intitulado "A Hora dos SuperQuinas" visa o desenvolvimento de competências lúdicas e motoras de crianças do 1º ciclo, integrado na ocupação dos tempos dedicados às Atividades e Enriquecimento Curricular (AECs). Este Manual de guia orientador aos professores do projeto, pretende apresentar pontos de partida (contextos de estimulação) para permitir momentos de vivência de jogos e atividades motoras diversificadas e num ambiente lúdico e de exploração livre (competências motoras, culturais e sociais básicas), de natureza optativa e centradas no prazer de exploração de situações inabituais (desenvolvimento e adaptação motora) de forma individual e coletiva. Pretende-se dar oportunidade a todas as crianças da escola pública de mostrar e desenvolver os seus talentos em liberdade e autonomia.